14-FEV-2021
Enquanto a doença COVID-19 centra atenções no mundo, a população do Amieiro, em Alijó, recorda que a aldeia resistiu à pneumónica de 1918 por estar isolada, rodeada de "sete colinas" e por ter "acendido fogueiras" à porta das casas.Quando se falava em maleitas, toda a gente combinava à mesma hora acenderem uma fogueira ao escurecer, na rua, à porta de cada pessoa. Iam então buscar molhos de mato verde, alecrim, urze, carqueja, rosmaninho e toda a gente fazia a fogueira à mesma hora”, e ao toque do sino. Com a infeção provocada por COVID-19 detetado em Wuhan, na China, a causar preocupações a nível mundial, os Amieirenses recordam a pneumónica, também conhecida por gripe espanhola, e como esta aldeia conseguiu escapar à epidemia mundial que surgiu no início do século XX.O Amieiro está localizado no vale do Tua, junto ao rio, e era, na altura, uma terra que quebrava o isolamento com o comboio, que se apanhava na margem oposta, ou então percorrendo “a pé ou de burro” os 15 quilómetros por um antigo “caminho romano” até Alijó, no distrito de Vila Real.O rio era atravessado de barco, mais tarde de teleférico e depois por uma ponte que foi levada pela cheia há quase 20 anos. No Amieiro dizem que ninguém foi infetado pela gripe espanhola. Seria do fumo? Ou seria da posição geográfica em que o Amieiro se encontra?No Estudo Clínico da Gripe Epidémica, escrito em 1920, o autor Celestino da Costa Maia fala precisamente no Amieiro, que descreveu como “uma pequena povoação de 400 habitantes do concelho de Alijó, rodeada por todos os lados de freguesias onde a gripe grassava impiedosa, conseguiu escapar aos seus horrores”.“De facto, os habitantes do Amieiro, logo que a seu lado o incêndio gripal se ateou, acenderam fogueiras em toda a volta da sua aldeia, mantendo-as acesas enquanto o flagelo não desapareceu das vizinhanças. Não seria este o fogo sagrado que os protegeu? Não desviariam estas fogueiras as correntes atmosféricas portadoras da morte?”, questiona o escritor.
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